segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Isso não é Rock

 

Então quer dizer que a bonitona subiu no palco, xingou o cara que levantou a foto do marido dela, pagou peitinho e saiu revoltada mediante um coro de "Foo Fighters"?  Interessante. Mas, espera, deu tempo de cantar no meio disso tudo?

O final do parágrafo acima me daria a brecha perfeita para anexar uma foto que representasse assunto do post e, em seguida dela, continuar com o texto, fazendo uso inteligente de todos os artigos que eu já li sobre como construir uma postagem visualmente atraente para internet. Exceto que, me desculpem, eu tenho respeito pelo estômago dos meus leitores (e pelo meu próprio) e, não, eu não sou imparcial a ponto de conseguir encostar numa foto dela, mesmo que virtualmente (me ensinaram na faculdade de Comunicação que imparcialidade absoluta é utopia, logo, estou fazendo uso do meu direito à parcialidade e me poupando do desgosto de deparar com aquela imagem deplorável novamente).

Quero deixar claro que essa postagem é inteira fundamentada em artigos e resenhas que li sobre o show, porque eu não estava fisicamente presente no festival e falhei miseravelmente na minha tentativa de assistir à apresentação via stream - estava com minha mãe e minha avó na sala e tenho a elas respeito ainda maior do que o pelo meu próprio estômago, logo, após quinze segundos de tentativa eu me senti obrigada a abortar a missão por completa incapacidade de tolerar tamanha afronta ao bom e velho rock'n'roll. E antes que alguém venha me dizer "então você não tem direito de falar nada", eu esclareço: tenho, porque além de estar me baseando em falas e fatos da própria artista (chequei em mais de um portal, para ter certeza de que as falas haviam sido aquelas mesmo, bem como assisti a um vídeo curto captado durante a apresentação), esse blog é escrito por mim, então eu tenho direito a falar o que eu entender por bem - mesmo que uma série de motivos maiores, tais como ética e moral, me inspirem a pensar duas ou três vezes antes de publicar alguma coisa por aqui.

Esclarecimentos feitos, vamos ao que interessa.

Eu sou uma grande apreciadora de música e, dentro desse contexto, desde pequena tenho o rock'n'roll como "especialização". Ou seja, é o que eu mais escuto, o que mais me agrada e o que eu mais busco saber sobre. Tendo isso em vista, me incomoda muito a restrição do rock'n'roll como simples incentivador de baderna e costumes duvidosos (como, pelo que estou me lembrando agora, eu já comentei em algum texto lá atrás).

No meu modo de ver, o rock'n'roll é mais do que música, é mais do que desordem, é mais do que roupa preta ou brincos pendurados pelo corpo. No meu modo de ver, o rock'n'roll é uma das maiores e mais expressivas formas de arte já praticadas pelo ser humano. É expressão quando tudo parece inexpressável. É descontentamento? Sim. Mas também é contentamento. Também é entusiasmo. Também é positivo.

O rock'n'roll tem sentido até quando parece não fazer sentido nenhum. E isso, além de ser a melhor, talvez também seja a pior coisa sobre ele. Porque é o que dá margem para atitudes como a que pudemos ver no show da sra. Courtney Love e a sua banda Hole. Será que alguém pode contar pra ela que pagar de Yoko Ono e sair criticando ex parceiro de banda do marido falecido não é uma coisa que a faz mais rockeira, mais talentosa ou mais artista? Ou será que já contaram e ela só resolveu ignorar?

"Vocês podem até gostar de Foo Fighters, mas não goste perto de mim". Porque o  Foo Fighters é uma banda criada por um cara que resolveu seguir sendo um músico de verdade e de respeito ao invés de viver à sombra do vocalista falecido de uma das maiores bandas da história do rock. Ah! Sem mencionar que, além disso, o Foo Fighters também é uma das bandas mais elogiadas pelas suas performances ao vivo. Ah, ah! E eles entoam coros em homenagem ao Kurt Cobain, ao invés de xilicarem mediante uma mera foto do vocalista do Nirvana. Sucesso e superioridade são coisas que incomodam o ser humano e isso não seria diferente com a sra. Love.

A verdade é que eu me senti no meio de uma linha muito tênue entre euforia e depressão à medida que me informava dos fatos e entendia o que aconteceu durante a apresentação. Era euforia por ver que minha capacidade de não gostar das coisas certas é tão afiada quanto a minha capacidade de gostar das certas (sou muito fã de Foo Fighters) e depressão por ver aquele show de horrores sendo caracterizado como rock'n'roll.

"Mas ela teve a plateia na mão por muito tempo durante o show". Teve. E fazia questão de esfriar o clima com os seus discursos vazios. "Mas ela sempre foi assim". Pois é, mas o argumento de rebeldia juvenil não existe mais. Os tempos são outros e ela também deveria ser outra - não, pelo amor dos deuses do rock, eu não estou dizendo que ela deveria estar sentada numa poltrona fazendo crochê só porque tem quase cinquenta anos. Não é isso. "Mas isso é rock". Não é.

Courtney Love preferiu levantar a blusa e cantar Lady Gaga, berrando por atenção e palmas, ao invés de subir no palco e fazer um show de qualidade, que surpreendesse positivamente público e mídia. Talento para isso ela tem. Ou, pelo menos, tinha.

Mas, fazer o quê? Em tempos de jovens fazendo greve por não poderem fumar  maconha em uma instituição de ensino, nada mais adequado do que o rock'n'roll ser restringido a estrelismo e peito pra fora.

O que me consola é saber que os que concordam comigo ainda são a maioria.

 

**Esse foi em completo e não intencional silêncio.

3 comentários:

  1. Pois é, e os fãs insistem em achar que o argumento "Ela sempre foi assim" é válido.
    Sim, ela sempre foi assim, e isso mostra o quanto ela não evoluiu, e ser assim desde sempre não faz dela mais ou menos escrota e poser, faz escrota e poser da mesma forma que sempre fez.
    Ela acha que ser desse jeito é ser rock 'n' roll e ter atitude, quando, na verdade, é uma amostra clara da falta de talento que ela tem. Precisa causar em show pra ser comentada, invés de só fazer um show foda.
    Me dá pena, e me dá mais pena de quem idolatra esse tipo de comportamento. Eterna adolescente que precisa absurdamente chamar atenção.


    Ah, Courtney, gata, just saying, Foo Fighter é mil vezes melhor que Hole.

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  2. Courtney quem? Fico admirado de ainda não terem inventado um novo termo pra certos tipos de som que insistem em chamar de Rock. Já pensou se logo inventam o "Rock Universitário", "Rock Pé-de-serra", "Rock Dance Pop Ui Ai Colorido"???

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  3. O melhor a se fazer pelo Rock'n'Roll é ignorá-la!
    O fato de sempre ter sido assim mostra o seu nível (in)evolutivo. O Universo evolui inexoravelmente, esta sra. insiste em negar-se essa oportunidade... Não sou pela violência, mas admiro o safanão que Axel Rose desferiu-lhe depois da dita ter se ofendido porque Axel disse a Curt que não deveria procriar com uma maluca daquelas...

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