sábado, 31 de dezembro de 2011

Segunda Pessoa – A última obviedade do ano (não que eu esteja subestimando a capacidade de 2011 nos surpreender no seu último dia)

 

Ao fim do ano passado, você optou por seguir um caminho diferente do que andava sendo planejado havia dois anos. Por um semestre, você viveu sua fase mais intensa da relação de amor e ódio que você e sua vocação estabeleceram. Você voltou para casa rindo e falando alto o quanto tudo aquilo era sensacional por quase a mesma quantidade de vezes que você voltou soluçando no banco de trás do carro pedindo para nunca mais voltar àquele lugar. Você amou, odiou, criou e copiou. Você teve a companhia de pessoas com quem sempre quis conversar e se viu tendo essa aproximação na hora certa. Vocês se deram bem. E aquelas pessoas tornaram especialmente as quintas-feiras muito, muito mais aturáveis.

Até que você teve que ir embora, sem ao menos se despedir propriamente. Você deixou para trás pessoas incríveis, a área que ocupa o seu coração e muitas, muitas recordações que andavam te machucando mais do que você já andava conseguindo aguentar. Então doeu, mas também foi como se um peso enorme houvesse saído das suas costas. Você fechou os olhos e soltou o ar que nem ao menos sabia que estava segurando. E então você chorou. De alívio, de agonia, de saudade e de antecipação.

No momento em que você não fazia ideia sobre para qual direção dar o primeiro passo, o Universo te fez olhar para a porta ao lado da sua. E então você ganhou um propósito, junto com uma nova família e a oportunidade de descobrir que luvas de procedimento não impedem que o cheiro do alho permaneça na sua mão por uma semana inteira, sem importar o quanto você tente se livrar disso com barras de sabonete e esponjas vegetais. O mais surpreende de tudo isso? Você se viu sentindo prazer de cheirar a alho, por mais que você ainda deteste que usem isso para temperar a sua comida.

Ao começo do segundo semestre, quando você já tinha esse novo propósito, mas ainda se via bastante perdida, o chão resolveu dar uma volta por aí e saiu debaixo dos seus pés. Você teve de viajar para o lugar que você mais ama nesse mundo, mas para ver uma das pessoas mais importantes da sua vida em uma situação muito delicada. Você chorou pouco, porque não era hora para isso, mas também nunca pensou no quanto o mundo estava sendo injusto. Por que justo ela? Por que não você? Você saberia lidar com isso, já estava acostumada! Só depois, quando tudo estava mais calmo, você soube analisar adequadamente a situação e perceber que, sim, tudo sempre tem a sua razão de ser. E com esse acontecido não era diferente. Você se sentiu cansada, desgastada e indescritivelmente adulta. Além de ter recriado um laço forte com pessoas especiais e que carregam o mesmo sobrenome que você.

E então, no meio de todo o caos, com todo mundo ainda tentando colocar a própria máscara de oxigênio antes de ajudar um ao outro, seu avô precisou dizer até logo. Você se despediu dele sem saber que estava se despedindo e você deve continuar agradecendo muito por isso. Você mostrou para ele o quanto havia crescido desde a última vez que vocês haviam se visto. Mostrou que agora tinha uma voz, um sorriso e um corte de cabelo diferente. E você sentiu que ele gostou do que estava vendo.

Foi um semestre complicado. Viagens, mudanças de planos, verdades difíceis. Até que chegou dezembro. Seu time foi campeão brasileiro de futebol, os dias estavam indo bem, você sorria com frequencia, agradecia com frequencia. E você fez sua primeira viagem internacional.

Estar mais perto do que 300km de distância da pessoa mais geneticamente parecida com você já foi um grande incentivo para passar pelo final de um ano desgastante. Viajar com ela, então, foi um presente mais do que merecido para as duas. Conhecer um lugar novo, lidar com uma língua diferente (mesmo que bastante parecida) da sua, explorar, vivenciar, registrar. Foi lindo. Não existe definição melhor. E se mesmo depois de ter passado muitas vezes pelas exatas quatrocentos e noventa fotos você ainda se sente arrepiada com as lembranças, certamente não deixará de se abalar com elas nunca. E isso é bom. Muito bom.

Foi um ano complicado. Você se entristeceu muito. Com os outros e consigo mesma. Se viu de frente aos seus maiores defeitos, seus maiores pontos fracos. Se viu cometendo erros primários que já havia cometido pouco tempo atrás. Você se magoou, se revoltou, se rebelou. Raspou o cabelo. Largou mão. Percebeu que, não, você não vai conseguir agradar a todos e que, não, não há problema nenhum nisso. Você se viu humana, capaz de errar, de se equivocar. E, principalmente, de reconhecer que nem tudo são erros e equívocos.

Você, por fim, passou a enxergar sua própria capacidade de acertar. De escolher o melhor caminho, de tomar a decisão certa, de admitir que os outros também podem ter uma parcela do erro. Você parou de se julgar tanto. E isso fez com que a sua percepção dos seus próprios erros se aguçasse ainda mais. Separar o joio do trigo provavelmente é a melhor definição para esse aprendizado.

Foi um ano complicado. E por isso mesmo você se viu podendo contar com mais pessoas do que imaginava. Seu círculo se ampliou, sua vida ganhou mais graça. Ter pessoas perto, mesmo que não fisicamente, é importante para qualquer um, e você se percebeu cercada de pessoas incríveis, que te ensinaram muitas coisas durante o ano. Algumas podem ser facilmente encaixadas no título de "meus melhores presentes do ano", ao mesmo tempo que as que estão com você há mais tempo só se fizeram ainda mais especiais. Você cresceu com elas, riu com elas, chorou com elas, abraçou entre asteriscos e trocou centenas de milhares de caracteres via telefone celular.

Você disse bom dia. Eu te amo. Obrigada por existir. Por me aturar. Por ter paciência. Por me deixar fazer parte. Por me fazer crescer. Boa noite. Até amanhã. Sonha com os anjos e amanhã me diz como eu fico de asas.

Você aprendeu a resgatar sua fé. Leu em voz alta, disse "assim seja", rezou pela Paz Mundial e se emocionou. Ainda não é uma etapa concluída, porque esse é um aprendizado constante, mas você tem certeza de que está finalmente no caminho certo nesse sentido.

Você teve um ano difícil. Você chorou mais do que esperava, se decepcionou mais do que esperava. Consequentemente, você cresceu muito, muito mais do que esperava. 2011 demandou força. E você aguentou o tranco.

Agora você se sente muito mais pronta para o ano que vem do que se sentia ao final de 2010. Novos planos, novas metas e, principalmente, um punhado de espaço em branco para ser preenchido pelas surpresas. Porque se for para apontar uma única coisa que você aprendeu em 2011 foi que dar espaço para o inesperado pode ser muito mais legal do que você sempre imaginou.

 

**”Caruso”, Lucio Dalla. Feliz ano novo :)

5 comentários:

  1. Hey, baby.
    2011 está no fim, e eu sei que ele, marrento do jeito que é, não gosta de ouvir isso, mas, bom, okay.
    Se seu ano acabou com saldo positivo no que se refere a aprendizagem, então acho que ele deve sair com um abraço acolhedor.
    Coisas ruins fazem parte, principalmente só assim percebemos as boas, mas se um bocado de lágrimas valeu um pouquinho de aprendizado, that's okay.
    Agora, meu bem, você aguentou o tranco, solte aquele suspiro, feche os olhos, reuna a fé e 'bora que 2012 vem aí <3

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  2. Hi, honey!!!!!!

    Primeiramente queria dizer que adorei seu post.

    Aproveito pra dizer que 2011 foi um ano difícil pra mim também... tive que tratar com muitas mudanças e focar minha energias em me estabilizar nesse novo momento da minha vida... e por isso, infelizmente não te dei a atenção merecida. O amor, esse não acaba, mas me sinto em falta e prometo que vou trabalhar melhor nisso em 2012.

    Mas bem... dentre todos os acontecimentos negativos, difíceis e etc, que o ano trouxe pra nos testar... tenho que confessar que em 2011, tive a oportunidade de dar um abraço e até um beijo em alguém que fez parte do momento mais difícil da minha vida.. e que sempre estava lá.. Com aqueles olhos lindos brilhando, olhos esses repletos de amor e carinho... Contagiante! E esse alguém, foi VOCÊ!
    Espero que em 2012 possamos nos ver mais, nos abraçar mais... e principalmente partilhar de boas notícias, bons amores, boas energias... enfim.. que 2012 venha para marcar nossas vidas de maneira positiva e feliz! Obrigado por permitir que eu faça parte da sua vida!
    Um beijo de quem te ama MUITO!!!!!!!

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  3. Esse é meu Docinho! Agreste, ácido, suave, que se revolta mas que também se cala, consente e nega, cada vez mais completa, "mais melhor", esse termo existe filosoficamente para ilustrar pessoas como Você, que se resigna sem jamis desistir.
    Beijão

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  4. E eu achando que 2011 iria acabar sem um inédito e emocionante texto seu!!! Sabe o que mais me surpreende em suas crônicas? A cada parágrafo é como se eu estivesse vivendo o momento relatado, vai na alma da gente!!! E isso vicia...então que venha 2012 e que você nos brinde cada vez mais com sua capacidade de transformar sentimentos em palavras!!! Um beijão prima queridaaaaaa!!!!

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  5. Feliz ano novo, sua tratante! Hahahahaha.

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