quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Seis Pés da Consciência

E aqui estou eu de novo. É realmente melhor produzir menos, mas produzir um bom conteúdo, do que produzir muito da mesma coisa. Pelo menos enquanto eu ainda não consigo produzir um bom conteúdo com muita frequencia. Mas hoje eu realmente não quero enrolar, então vamos direto ao ponto.

Abri a página deste blog para começar a postagem e deparei com algo no mínimo engraçado: O assunto da postagem anterior. Ah, a moral... E não é que vamos falar dela de novo?! Eu juro, mesmo mesmo, que foi sem querer. Só acontece que eu andava pensando muito em algo que me motivasse a vir aqui escrever. Muitas ideias apareceram, mas nenhuma pareceu me forçar a vir aqui como esse fato que aconteceu hoje.

Minha professora de Língua e Comunicação decidiu nos passar um filme hoje. Um filme que não tem nada e, ao mesmo tempo, tem tudo a ver com a matéria. O filme se chama "Medidas Extremas" (Extreme Measures é o título original), foi rodado em 1996. Eu não vou me apegar muito às partes técnicas desse longa (diretor, atores, distribuidora e afins), o meu foco aqui e agora não é esse. Não vou fazer uma resenha sobre o filme, vou fazer um resumo das minhas ideias. Mas recomendo que vocês busquem as informações e assistam ao filme.

Pois bem, resumidamente, "Medidas Extremas" fala de ética. Ética e moral. É sobre um médico que se vê tendo de escolher entre operar um policial (que está em um estado não tão grave) ou o bandido que atirou nesse mesmo polical e foi baleado de volta (e, principalmente, se encontra em estado mais grave que o do policial). Essa é só a cena inicial do filme, mas por ela já é possível ver a que a história se propõe. A trama principal começa quando esse mesmo médico (ele se chama Guy, interpretado pelo Hugh Grant) recebe um paciente que apresenta sintomas que ele nunca viu antes. O mesmo paciente acaba por falecer, e a coisa toda começa a ficar mais estranha ainda quando a causa da morte que consta no atestado de óbito não faz o menor sentido, considerando os sintomas que o homem apresentava. Guy decide investigar o caso e descobre que o paciente fazia parte de um experimento que usava cobaias humanas.

O experimento consistia basicamente em capturar moradores de rua que parecessem saudáveis e implantar em suas medulas substâncias que produzissem novos nervos. A intenção final era construir nervos como os dos humanos saudáveis, para que estes fossem implantados nas medulas de pessoas com paralisia e, assim, essas pessoas voltariam a andar e exercer suas atividades "normais" (e é aqui que as pessoas que conviveram comigo essa noite começam a entender o por quê de eu ter ficado tão estranha depois de assistir o filme, né?).

Ok. Agora eu começo a despejar tudo o que ficou entalado na minha garganta. A título de explicação: Eu não acho que haja alguém que frequente esse blog e não saiba, mas não custa explicitar, né, vai saber... Bem, eu decidi escrever tudo isso que já escrevi (e o que eu ainda vou escrever) porque eu acho que vi esse filme com olhos um pouco diferentes dos olhos dos meus colegas de classe... Eu sou deficiente física. E não é bem um assunto que eu aprecie conversar sobre, porque eu acho que para alguém ser tratado como um igual ele deve agir como um igual. Não me é um tabú ou algo do tipo, eu só acho desnecessário conversar sobre isso toda hora. Sou o que sou, independente de duas duplas de rodas. Enfim.

O que eu vi nesse filme foi um monte de pessoas acomodadas com o título de inferior, de coitado, de incapaz. E eu vi muito, muito egoísmo também. Os parentes daqueles deficientes ajudavam nos experimentos - tanto capturando os moradores de rua, quanto submetendo-os aos testes com os nervos e ajudando a manter tudo em completo sigilo. Sabe, eu não sou absolutamente nada para julgar as atitudes de alguém. Eu só senti muita, muita repulsa pela ideia de haver pessoas que: a) Acham que seu "bem estar" é mais importante do que a vida de alguém; b) Acham que esse mesmo bem-estar está diretamente ligado a sua condição física e c) Conseguiriam voltar a ser felizes sabendo que a sua "felicidade" custou a vida de outras pessoas e a tristeza de várias famílias. E me causa muito mais repulsa ter a certeza de que existem pessoas que pensam assim, aqui nesse "mundo real".

Como eu disse ali em cima, eu sou da opinião que para ser tratado como um igual, deve-se agir como igual. E antes que comecem a falar qualquer coisa a meu respeito, eu digo que sim, eu já fui do tipo de pessoa que daria qualquer coisa em troca do "bem estar" que aqueles deficientes procuravam no filme. Só que isso morreu em mim no exato momento que eu percebi que o meu bem estar depende única e exclusivamente do modo que eu ver as coisas ao meu redor.

É tudo uma questão de se adaptar ao meio e fazer com que ele se adapte a você. Abaixar a cabeça é covardia, é sinal de fraqueza. É mostrar para os outros que, sim, você é inferior, você deve e merece ser tratado como um inferior. Não culpe o mundo pela sua "desgraça", é você mesmo que está alimentando a infelicidade.

Tudo isso que eu disse aí em cima se aplica a milhares, milhões de outros casos, não estou falando tudo isso só para as pessoas que passam pelo mesmo que eu.

Eu deveria entrar a fundo no mérito da mídia também, porque ela tem um papel muito importante em toda essa atmosfera. Grande parte das pessoas agem baseadas no que a televisão mostra a elas. Mas, honestamente, eu acho que esse outro lado merece um texto em separado, que eu prometo providenciar assim que possível.

O que me importa aqui é mostrar que estamos no meio de uma sociedade doente que, além de egoísta, tende sempre a culpar o mundo por suas tragédias. É preciso parar e pensar um pouco. Não é difícil perceber que os meios justificam os fins. E é menos difícil ainda tomar consciência que, esses meios, somos nós mesmos que construimos.