sábado, 20 de agosto de 2011

Ramificações pt. II

 

A necessidade de se expressar se fazia tão latente que ela já não conseguia mais simplesmente ignorar e esperar por uma inspiração maior.

Ali, naquele quarto diferente, com aquele ar que fazia tão bem a sua alma, encontrou o momento perfeito. No meio de uma tempestade daquele tamanho encontrou a paz que precisava tanto e não conseguia encontrar em lugar algum. Ao mesmo tempo que se sentia assustada por todas as coisas preocupantes que andavam acontecendo, também se sentia feliz. 

O sorriso inevitavelmente aparecia para brincar em seu rosto ao passo que ganhava provas e mais provas, tão nítidas, de que andava tomando muitos caminhos certos. Era bom se sentir acertando entre todo aquele bocado de erros.

E era engraçado pensar em como tudo, sempre sempre, acabava caindo para as mesmas reflexões sobre contradição. Sua vida, suas histórias e seus sentimentos se mostravam, cada vez mais, grandes contradições. Chegava a se perguntar se esse era apenas um privilégio (?) seu ou se, no fim das contas, todos passavam pelo mesmo.

A verdade é que havia tanta coisa acontecendo que, se parasse para pensar melhor, sentia medo de colocar tudo para fora e perceber o tamanho real da bagunça. Como um armário que não é arrumado há tempos. O crescimento da bagunça é diretamente proporcional ao medo de arruma-la.

Também sentia um pouco (um pouco?) de medo de perceber que andara reclamando de barriga cheia. De notar que andara tendo coisas que sempre almejou e, agora que as possuía, não estava dando tanto valor. Aliás, sequer tinha notado que as tinha na mão agora.

Buscara inspiração em textos antigos e se deparara com um sobre ramificações, contradições e sentimentos novos. Com isso, percebera que o sentimento novo que estava sentindo naquele momento não era tão novo assim. Quer dizer, era sim, porque depois de toda essa confusão de pensamentos, finalmente constatara que todos os sentimentos sempre serão novos. Comparações nunca seriam válidas. Porque são todos diferentes uns dos outros.

Então, como no fim de uma faxina adiada por semanas, sentia-se mais limpa, organizada, com as coisas no lugar. Mesmo que ainda percebesse a poeira nos cantos dos móveis e muito da bagunça empurrada para baixo do tapete. Aquilo não incomodaria se permanecesse ali, quieto, sem ser mexido. Ainda não era hora para algo mais minucioso. E talvez essa tal hora nunca chegaria. E, honestamente, não se importava muito com isso (ou, pelo menos, sabia se enganar a ponto de acreditar nisso).

Tanta, tanta coisa havia mudado... Tudo havia mudado. Exceto a sua completa inabilidade de se expressar em primeira pessoa. E isso dizia tanto sobre si que até a deixava um pouco (um pouco?) assustada.


**"I Fall For You", Sébastian Lefebvre. A mesma trilha da parte I.

Um comentário:

  1. Adorei Ie.
    Foi como ler um pouco da bagunça que vive em mim nos últimos tempos e que venho adiando escrever. Obrigada por fazê-lo.

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