sábado, 25 de dezembro de 2010

Do lado de dentro.

 

Eu estava recusando a escrever algo sobre o Natal. Me recusando terminantemente, mesmo se viesse uma ideia boa demais para ser ignorada, eu faria questão de jogá-la fora pelo simples prazer de jogá-la fora.

Quando eu era pequena, assim como pra todos ou para a grande maioria, Natal era uma data esperada o ano inteiro. Mais do que o meu aniversário e o dia das crianças. A Páscoa eu não considero, porque eu só comecei a gostar de chocolate ano passado (é, eu sei).

Minha família, tanto por parte de mãe quanto de pai, nunca foi religiosa, no sentido de seguir à risca uma religião ou outra, mas fé e crenças nunca faltaram e eu incorporei-as, como toda criança o faz com o que capta dos ambientes ao seu redor.

Cresci um pouco e aprendi a rezar o Pai Nosso e a Ave Maria meio por conta própria, porque realmente não era um costume em casa. Foi uma escolha que eu fiz, porque me parecia certo e, como na escola a maioria dos meus professores e colegas eram católicos, eu acabei “aprendendo” que era errado não rezar. Eu tinha (e ainda tenho, é um dos meus melhores amigos até hoje) um amigo ateu na sala de aula e meus professores tentavam dizê-lo que aquilo não fazia sentido. Eu me pegava concordando com eles e, ao mesmo tempo, pensando que eles deveriam deixá-lo em paz com sua própria crença.

Pra mim, Deus existia e pronto. Alguns acreditavam, outros não, mas Ele existia e fim de papo. Bem aquela coisa de você tomar a sua própria verdade como uma verdade universal. Então o Natal, pra mim, era data de cantar parabéns pra Deus e ganhar presentes por ele. Eu ficava muito feliz com tudo aquilo. Não era só sobre ganhar presentes, era também sobre celebrar o aniversário dele.

Hoje em dia, eu me sinto meio esquisita falando sobre isso. Muita, muita coisa mudou. Especialmente o fato de eu ter aprendido que a minha verdade não é maior do que a de ninguém, o que me levou a concluir que tudo é contestado e que não existe uma verdade universal, além a de que todo mundo vai morrer um dia. E aí começou a crise.

De repente, eu tinha dezessete, dezoito anos, e estava contestando absolutamente tudo o que eu sempre aprendi como verdade. Eu mesma estava destruindo a minha base fundamental. O Natal passou a fazer um pouco menos de sentido e eu me sentia mal por estar comemorando algo que eu não sabia mais se acreditava ou não.

Esse ano foi o ápice disso. Eu perdi completamente a empolgação com o Natal e, sendo honesta, só apoiei a decoração da casa porque sei o quanto minha mãe adora a data. Passei o dia todo me sentindo estranha, porque ia celebrar de novo uma coisa que acredito cada vez menos que seja real (não estou dizendo que sou ateísta, estou dizendo que… Não sou cristã.). Em suma, eu estava me sentindo extremamente folgada por usar uma data, de uma crença que não é a minha, como desculpa para me vestir bonita, comer bem e ganhar presentes.

Fui meio arrastada até a mesa da ceia e a coisa toda começou a ficar um pouco diferente. Jantamos, comemos sobremesa (eu experimentei rabanada! Nunca tinha comido rabanada. Me sinto mais inclusa na sociedade agora que eu como e gosto de rabanada), jogamos pôquer e trocamos os presentes.

Por fim, acabei me lembrando de uma frase que li no Twitter hoje à tarde. Algo como: Feliz Natal, seja lá o que ele signifique pra você. E aí foi como se uma lâmpada acendesse em cima da minha cabeça.

O Natal, hoje em dia, é muito mais sobre o que você pensa sobre ele do que… Sobre o significado “literal” dele. Cada um que vê a data como especial, tem o seu próprio motivo pra isso. E então, eu, agora comecei a enxergar de um jeito diferente.

Pra mim, agora, Natal vai ser sobre ter uma noite especial com quem eu estiver. Sobre desejar tudo de bom, trocar boas energias (porque taí uma coisa que eu acredito) e ter um bom momento. Então agora, a uma e meia da manhã do dia 25 de dezembro, eu não me sinto mais esquisita por comemorar o Natal.

Então agora, a uma e meia da manhã do dia 25 de dezembro, eu finalmente desejo o mais sincero dos FELIZ NATAL. Seja lá o que ele signifique para cada um.

A Ouvir: O Media Player no shuffle acabou de sortear “Cold Desert”, do Kings of Leon. Puta música pra fechar a noite MESMO.

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