sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Diálogo – O último do ano

 

- Então, chegou a hora.

- Chegou?

- Yep.

- Mesmo? Eu não posso adiar isso mais um pouco?

- Na verdade, se você adiar isso um pouco mais, não vai dar tempo e então a coisa toda vai perder o propósito.

- É, você tem razão.

- Eu sei.

- Então...

- Então...

- Por onde começar?

- Não tenho certeza.

- ...

- Ok, sempre eu quem tem de escolher tudo mesmo. Então o começo pode ser... Bem, o que era esperado para 2010, antes de 2010 começar?

- Olha só... É um bom jeito de começar.

- Eu sei. Então comece.

- Muito bem. Provavelmente o que eu mais pensava sobre 2010 era o quanto eu ia estudar mais e me esforçar mais na faculdade.

- E aconteceu?

- Não, você sabe que não. Meu maior objetivo, dentro disso, porém, eu consegui. Nota máxima nos quatro bimestres de Foto. Mas, mesmo assim, é... Eu continuei sendo uma boa aluna, mas nem perto do que eu poderia ter sido.

- Se arrepende? Acha que deveria ter feito diferente?

- Não sou muito de me arrepender, na verdade. Acho que estaria um pouco mais satisfeita comigo mesma, se tivesse ido melhor. Mas também sei que teria enlouquecido de vez, se tivesse feito tudo do jeito que planejei no final do ano passado. Não sei... É um pouco do mesmo que sinto em relação a tudo o que eu fiz no colegial: Provavelmente muitas coisas mudariam para melhor, se eu tivesse feito diferente, mas o jeito que eu escolhi fazer também trouxe coisas boas.

- Então fale sobre o que ser vagal esse ano trouxe de bom pra você.

- Eu não fui vagal.

- Foi.

- Não fui. Eu fui... Um pouco menos... Rígida.

- Vagal.

- Ok, vagal.

- Mas não tem problema quanto a isso, você não deixou de cumprir com as suas obrigações, de qualquer modo. E teve boas notas. Agora fale, vamos.

- O que me trouxe de bom? Bem... Eu passei um pouco menos de nervoso, aprendi que não preciso fazer absolutamente tudo, para que o resultado final fique de meu agrado. Acho que aprendi a confiar que trabalhos em grupo são feitos em grupo.

- Legal isso sobre confiança.

- Pois é. Isso também pode ser bastante perigoso, algumas horas, sabe.

- Ah, com certeza. Depositar confiança em alguém e se decepcionar com o resultado não é nada legal.

- Exato. Especialmente se é você quem vai ter de consertar depois.

- É. Mas, de qualquer modo, legal ter aprendido isso. O que mais? O que mais você esperava?

- Acho que me foquei só nisso. Não pensava em mais nada, na verdade.

- Entendo. Então o que você não esperava, que acabou acontecendo?

- Basicamente todo o resto.

- Como assim?

- Foi um ano completamente... Diferente. De tudo o que eu já vivi, de tudo o que eu pensei e de tudo o que eu já imaginei que fosse possível acontecer.

- Quer citar algumas coisas?

- Eu virei moderadora do lugar que... Foi a minha casa, durante uma fase muito complicada uns anos atrás. Agora eu ajudo a cuidar dela. Isso foi muito inesperado e muito, muito legal.

- Hum, muito bem. O que mais? Não esconda nada.

- Isso seria praticamente violação de privacidade, sabe.

- E não é exatamente esse o objetivo disso tudo?

- É, você tem razão.

- Eu sei.

- Bem... Eu não esperava tantas reviravoltas. O ano começou um turbilhão, continuou sendo um turbilhão e está terminando como um turbilhão. De tudo... De sentimentos, de confusões, de mudanças, de contradições...

- Ah, as nossas famosas contradições...

- Pois é. Esse ano elas estiveram especialmente presentes e exerceram papéis fundamentais em basicamente todas as etapas.

- Muito bem, mas não fuja do assunto. Conte um pouco sobre os turbilhões. Faça um resumo rápido sobre do que aconteceu, o que você sentiu.

- Eu me senti confusa em grandíssima parte do tempo. E estou terminando esse ano confusa, inclusive. Eu tomei decisões importantes e também fui afetada diretamente por decisões importantes que outras pessoas tomaram. Dei grandes passos, também, e muitas vezes me vi fazendo o caminho exatamente inverso ao que eu deveria ou planejava estar fazendo.

- Soa como um ano agitado.

- Não sei, é engraçado. Acho que aconteceu tanta coisa esse ano que, quando eu paro pra pensar em tudo o que aconteceu em janeiro, parece que foi há cinco anos. Lembro de estar conversando com minha irmã, na segunda ou terceira semana do ano e nós falando: Nossa, tanta coisa já aconteceu esse ano que nem parece que estamos só no primeiro mês.

- Certo... Já chegamos ao começo do ano, veja só. Prossiga.

- Bem, as aulas começaram e, não foi logo de primeira, mas algumas semanas depois eu acabei me aproximando de alguém que fez parte de boa parte das minhas melhores memórias do ano.

- É mesmo? E eu suponho que você não esperava por isso.

- Definitivamente fazer novos amigos não fazia parte dos meus planos. Ela apareceu e, junto com ela, ganhei mais dois de brinde.

- Continue.

- Os dois anos anteriores haviam sido de completa... Falta de vida social, sabe. Esse ano foi divertido. Dificilmente ficava mais de dois finais de semana sem sair de casa, nem que fosse só pra tomar um sorvete. Também nunca na vida comi tanto Mc Donald’s. Ouvi muito, muito Teatro Mágico... E aprendi que, ao contrário do que eu pensava antes, sei lidar muito bem com amizades baseadas em contraste.

- Amizades baseadas em contraste?

- Sim. Existem as amizades por identificação e as por contraste. Essa é por completo contraste. E nós nos saímos muito bem nisso.

- Então foi um bom ano nesse sentido de amizade, não é?

- ...Bem...

- Bem...?

- Eu acho que basta dizer que foi um ano de grande aprendizado, nesse sentido.

- Aprendizado?

- Sim.

- Tudo bem, fale pelo menos um pouco. Curiosidade, sabe como é.

- Bem... Na verdade foram coisas acontecendo durante o ano inteiro, que ainda estão acontecendo, sobre amizades de milênios e sobre amizades recentes. Algumas coisas que fogem do meu controle e outras que cada vez mais percebo que só acontecem dentro de mim.

- ...Ok... Go on.

- Eu me decepcionei muito, muito mesmo. Ao mesmo tempo que me surpreendi positivamente com muitas coisas, também. Chorei bastante, tanto de tristeza, quanto de alegria. Perdi algumas pessoas, ganhei outras, reatei uma amizade especial...

- Estou te sentindo um pouco cabisbaixa com esse assunto.

- Como eu disse, algumas coisas ainda estão abalando.

- Tudo bem, então fale sobre a amizade especial que você reatou.

- Foi com certeza uma das melhores coisas que me aconteceram. Brigamos no comecinho do ano e reatamos alguns meses depois. Foi a pessoa com quem eu mais conversei, durante o ano inteiro. Com o tempo, conseguimos de volta tudo o que tínhamos perdido e, agora, somos inúmeras vezes mais unidas do que já éramos.

- Great. Você está feliz novamente. Conte um pouco mais sobre boas coisas com amigos.

- Meus melhores amigos de infância vieram me visitar na semana do meu aniversário. Depois, em julho houve mais um encontro com as minhas três lindinhas em São Paulo. Foi maravilhoso ter as três ali comigo. Os quatro corações e tal, foi muito, muito bom. Então, algum tempo depois, provavelmente dentro de duas das piores semanas do ano, eu acabei me encontrando com as pessoas que me fizeram rir durante o colegial inteiro. Foi incrível. E agora, no fim do ano, eu e meu melhor amigo estamos muito, muito próximos. Sendo importantes um pro outro, do jeito que a gente sempre foi... Mas dessa vez está mais forte.

- Então, pelo que estou vendo, esse ano foi fundamental para, basicamente, você perceber quem vale a pena e quem não vale. É isso?

- É exatamente isso. Eu tenho me esforçado para manter perto de mim todo mundo que é realmente importante. Curiosamente, a maioria está fisicamente muito longe de mim. Mas, mesmo assim, é bom continuar comprovando que amizades “virtuais” são tão valiosas quanto as “reais”. Fora o quanto a internet me permite manter contato com quem eu não posso ver sempre, né.

- Fale sobre alguém que você teve de se despedir esse ano.

- Eu vou sentir muita falta de uma professora em especial.

- Uma professora? Mesmo?

- Mesmo. Eu devo a ela muito, muito mesmo, do que eu cresci nos últimos dois anos. Como pessoa, especialmente. Com ela eu aprendi valores que vou carregar pra sempre. Mais do que as outras matérias me ensinaram um pouco para ser uma boa profissional, as matérias dela me ensinaram muito para ser uma pessoa melhor.

- Isso é muito bom.

- É, foi bom aprender.

- Muito bem, acho que já falamos bastante sobre amizade e isso tudo. Sobre o que você quer falar agora?

- Os shows do ano parecem uma boa...

- Tem certeza?

- Tenho. De qualquer modo, foram ótimos momentos. Mesmo que... Enfim.

- Muito bem, então fale dos shows.

- Foi um ano riquíssimo nesse sentido. Comecei com Coldplay, cara...

- Um belo começo.

- Um começo perfeito. O segundo melhor show da minha vida. Bem, depois tivemos o João Rock, festival que eu tenho vontade de ir desde quando eu comecei a assistir a MTV, o que faz bastante tempo.

- Momento para se sentir velha.

- Exato.

- Prossiga.

- Esse ano eu tive a oportunidade de ver Capital Inicial e Jota Quest, bandas que eu morria de vontade de ver há muito, muito tempo. Vi O Teatro Mágico, que conheci esse ano e que já é especial, duas vezes. Vi Kings Of Leon! Kings Of Leon!

- É, você viu Kings Of Leon. Foi o melhor?

- Foi definitivamente o melhor. Conheço há dois anos, mas é... É uma das minhas bandas favoritas, sem sombra de dúvida. Vê-los ao vivo foi... Incrível.

- E, bem...

- Não.

- É necessário. Isso é uma retrospectiva. Como você vai deixar o mais importante de fora?

- Mas...

- Vai.

- Bem... O dia seguinte do Kings Of Leon foi com certeza o pior dia da minha vida, até hoje. E, ah! Pronto, registrado, podemos ir pro próximo assunto?

- Mas...

- Próximo assunto.

- Ok. Bem... Já que estamos recapitulando essa época...

- Oh no. Você quer me matar de vergonha.

- Fale um pouco sobre sua vida amorosa. :D

- Nossa, você não facilita, hein?

- De todo modo, mais uma parte importante que não podemos deixar de fora.

- Bem... Em um ano onde eu esperava “estacionar” esse quesito... Eu realmente... Não estacionei at all.

- Prossiga.

- Foi agitado. O ano mais agitado, nesse sentido, até hoje. Não exatamente sobre amor... Porque eu já passei da fase de me apaixonar em toda esquina. Mas... É, foi agitado.

- É impossível tirar informações sobre isso com você.

- Eu sei.

- Ok, só uma última pergunta sobre isso, então?

- ...Manda ver.

- Você se apaixonou?

- ...

- Responda!

- Mas...

- Ah, c’mon. Não se faça de recatada.

- ...

- Responda. Você se apaixonou?

- Sim. Próximo assunto.

- Mais de uma vez?

- ...

- Responde!

- Não vou responder! Você disse ali em cima que seria só mais uma pergunta!

- Vou interpretar sua recusa como um sim.

- ...Próximo. Assunto.

- Família?

- O que tem a família?

- É o próximo assunto, oras!

- Ah, sim.

- Lenta. Vamos, fale sobre família.

- Foi o que me manteve viva e respirando.

- É mesmo, não é?

- Definitivamente.

- Tell me about it.

- Bem, mais dezenas de momentos inesquecíveis com minha irmã. É lindo o quanto nós nos tornamos mais e mais amigas, conforme vamos crescendo e amadurecendo. Depois, eu e meu pai nos tornando amigos também, compartilhando interesses. E... Eu e minha mãe... Passando por momentos difíceis e, no fim, percebendo que... É impossível ficarmos de cara virada por muito tempo.

- Fora tudo o que você pensou sobre família, durante, well, aquelas duas semanas inesperadas em São Paulo.

- Nem me fale.

- Não, é você quem fala aqui.

- Você tem razão.

- Eu sei.

- Sabe, provavelmente o objetivo de tudo o que aconteceu no dia 11 de outubro, foi o de... Me manter perto de pessoas que eu nunca tenho a oportunidade de ficar junto por muito tempo. É o que dizem, né, você percebe melhor as coisas no meio do caos do que quando está alegre. Do mesmo jeito que é fácil se dar bem com alguém quando está todo mundo feliz. Mas, para perceber o quanto um amor é de verdade mesmo, nada melhor do que uma madrugada inteira tossindo sem parar.

- Aquilo foi... É.

- É. Acho que o momento mais... Forte... Do ano inteiro.

- Estamos nos prolongando demais. Vamos fazer um ping-pong?

- O quê? No maior estilo talk show cafona?

- Exatamente.

- Taí. Topei.

- Melhor descoberta de 2010.

- Bacon. Me sinto mais inclusa na sociedade, agora que gosto de bacon.

- Mentira que a sua melhor descoberta de 2010 foi bacon. Por favor, né, estamos falando sério aqui.

- Ok, ok. Então... Descobrir com quem eu posso contar e com quem eu não posso.

- O que você aprendeu e mais gostou?

- Não quero que isso vire auto-ajuda, sabe. Então eu vou responder que... Fazer as unhas! Adorei aprender a fazer as unhas.

- Parte mais legal do ano.

- Copa do mundo. Por... Tudo.

- Maior mudança.

- Mudar de Jornalismo pra Publicidade.

- Espere. O QUÊ?!

- Isso mesmo que você ouviu. Ou leu. Espere, estou confusa, já não sei mais.

- Você sempre foi confusa. Você é confusa. Mas... O QUÊ?!

- Ora, pra alguém tão favorável à racionalidade... Decisão mais racional que essa, impossível, não?

- É, você tem razão. E não use a minha fala. Não diga que sab—

- Eu sei.

- ...

- Chega desse ping pong. Não é tão legal quanto eu imaginei.

- Não, espere, só mais uma. Todo ping pong tem uma última pergunta importante.

- Ok, só mais uma. Seja original.

- Defina o ano em uma palavra.

- Nossa, isso foi o melhor que você conseguiu?

- Anda logo.

- Intenso.

- Nossa, isso foi o melhor que você conseguiu?

- Cale a boca.

3 comentários:

  1. Meu Dociiiiiiinnnnnnnnnhhhhhhhhhoooooooooo!

    Nada é tão bom como descobrir-se, não é mesmo?

    Este post faz Você fechar 2010 com chave de Ouro.

    2011 SERÁ um Ano de Ouro.

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  2. Muito, mas muito Chique mesmo. Sofisticado, intelectual sem ser clean.
    Congratulations Honey.

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