quarta-feira, 16 de março de 2011

Platônico - pt. II

 

“Algumas coisas haviam mudado desde a última vez que parara pra pensar sobre aquilo. Oh, espere, isso está errado. Porque não é como se passasse muito tempo sem pensar naquilo. Tanto faz. De qualquer modo, algumas coisas haviam mudado.

Não era mais quieto, recluso, sozinho. Não eram mais dois ou três amigos. Agora eram quatro ou cinco. Não era mais o ouvinte, o calado. Agora era o que falava, entretia. Agora ele tinha uma voz. E era uma voz bonita (quer dizer, lógico que era uma voz bonita. A imparcialidade nesse julgamento era absolutamente descartada).

Agora não existia mais só aquela vontade discreta, aquela mera imaginação. Agora era latente, ansioso. E parecia cada vez mais distante.

Agora existia o encontro dos olhares em frações de segundo. Toda aquela coisa meio hollywoodiana de as pessoas ao redor sumirem, nada mais existir, a trilha sonora piegas tocando ao fundo.

Era curiosa a maneira como tudo aquilo se conduzia. Quanto mais palpável, mais distante. Quanto mais olhares, mais desvios. Quanto mais vontade, mais insegurança.

E era curioso como, de repente, “platônico” não era mais só uma coisa de ficção.”

 

** “Vulnerable”, Secondhand Serenade. “Tell me tell me what makes you think that you’re invisible”, e nem foi de propósito…

2 comentários:

  1. Quac! Precisei ler 2 vezes. Belo texto, pontual, lírico e pragmático, incoerente, doce e agudo... Platônico!

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  2. Omg, depois do comentário do seu pai fiquei até com vergonha de comentar, pq né? Depois dessa oq eu posso acrescentar?!
    P.s. não, vc não pode ter alma de publicitária.

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